Ele era como um anjo, daqueles que você sempre sonhou em ter, para segurar na tua
mão e te abraçar, te cobrir com as suas asas e te livrar de todo o mal.
Ele não tinha asas, não tinha auréola e muito menos usava roupas brancas de algodão e tecido fino. Mas ele possuía um dom, que talvez só ele tinha, um dom de
proteger as pessoas, e entre elas, aquela garota que precisava tanto de alguém
como ele. Ela não tinha ninguém, até ele aparecer.
My angel - Niall Horan
Parte um.
Um par de asas brancas, um vulto que brilhava, um par de olhos azuis. Mais uma vez aquele sonho, mais uma vez aquela mesma visão de um lugar escuro, cinzento ou totalmente preto, não sei bem, sujo, e com alguma coisa que me trazia medo, tristeza e desespero. Era confuso sim, mas lá no fundo parecia fazer algum sentido de como eram os meus dias, de como era a minha vida. Todas as noites desde o mês passado, todos os dias pensando em como isso seria possível e se era algo normal ter exatamente o mesmo sonho todas as noites, e muitas dessas acordar quase quando o sol está nascendo, suada e assustada. Talvez nem mais, já que eu já me acostumara com isso.
Levantei da cama pondo a mão na cabeça que dava umas pontadas leves de dor. Olhei para o relógio na escrivaninha e eram exatamente 06:20AM, eu havia acordado dez minutos antes. Levantei-me calçando as sandálias passando as mãos nos cabelos provavelmente assanhados sentindo minha nuca suada, caminhei até o banheiro observando o quanto a casa estava desarrumada. Morar sozinha era realmente uma coisa difícil para uma adolescente de 16 anos. Meus pais já falecidos, meus avós morando em outro país e consequentemente meus tios e primos mais próximos viajando pelo mundo e curtindo a vida pouco ligando para mim, bem, era o que me restava, me virar sozinha. Escovava os dentes enquanto eu pensava se deveria ir ou não para aquela maldita escola hoje. Pelo menos era o meu último ano naquele inferno, o que se tornava melhor já que estávamos na metade do ano e que o fato de eu ir usando o muito da herança dos meus pais para viajar para fora do país e cursar a carreira dos meus sonhos em uma faculdade ótima me deixava mais animada. Por quê eu não gostava daquela escola? Simples, porque lá as garotas estilo patricinhas de beverly hills e os garotos populares e metidos a gostosos não perdiam uma oportunidade de tirar sarro da cara das pessoas que eram anti-sociais o bastante para não terem amigos e odiar aquela merda e não ir para festas para ficar de pegação com eles. Sim, eu era exatamente isso. Eu não tinha amigos, e muito menos fazia questão de nenhum, eu já era super acostumada a ficar sozinha em todos os lugares que eu raramente costumava ir a não ser a escola, e a única amiga de verdade que eu tive em toda a minha vida teve que se mudar para o Canadá. Nunca namorei, só beijei dois garotos na minha vida e o resto você já deve imaginar. Sim, isso é o resumo da minha vida.
Peguei a mochila colocando nas costas já chegando a conclusão de que eu realmente precisava ir para a escola hoje, mesmo querendo me jogar no mundo e tentar ser feliz eu ainda queria estudar e me esforçar para ter a carreira que eu tanto queria. Abri a porta do apartamento e andei pelo corredor iluminado chegando até o elevador, apertando o botão do térreo. Dei bom dia ao seu Joe, o porteiro de lá e uma das poucas pessoas que eu costumava me comunicar todos os dias.
Andei pelas calçadas observando o céu escuro e nublado de sempre de Londres e aquele típico clima frio que eu adorava, alguns alunos da minha escola que infelizmente ficava perto dali andando a caminho. Nos fones de ouvido tocavam minhas músicas preferidas, em uma altura considerável, e que se eu não fosse atenta poderia até me desconcentrar e acabar em algum tipo de acidente.
Andei mais dois quarterões parando em frente ao colégio, que era do outro lado da rua, e mesmo assim eu já poderia ver as pessoas do lado de fora me olhando e algumas rindo. Essa era uma típica rotina, e mesmo que eu ignorasse ao máximo me deixava um pouco depressiva, até porque ninguém é de ferro, nem os professores daquele lugar iam com a minha cara. O sinal fechou e eu respirei fundo fechando os olhos antes de ousar descer a calçada, fazendo isso em seguida e andando lentamente na frente dos carros parados. Aumentei o volume da música dos fones deixando-o no máximo, na tentativa inútil de tentar me concentrar mais em sua letra e batida do que nas garotas cochichando e rindo com aqueles olhares de quem se acha superior na minha direção. Eu andava muito lentamente, receosa de que se eu botasse o pé na calçada onde elas estavam eu talvez fosse pisada ali mesmo, humilhada e sacaneada, o que não era nada impossível. Contei três minutos e olhei para frente, eu não estava nem na metade da faixa de pedestres ainda, na qual era enorme e talvez não desse tempo de alcançá-la antes que o sinal abrisse se eu não corresse.
Dito e feito. Dei uma última olhada para a cara das garotas do outro lado da rua antes que eu sentisse algo duro e forte bater contra mim e o meu corpo ser arremessado contra o para-brisa de um carro. Meu corpo caiu no chão em seguida sem que eu pudesse sequer imaginar, mas por impulso levantei um pouco a cabeça antes de me ter contra o chão, dando impulso para que a mesma não batesse com força no asfalto. Com essa reação, meus olhos incrivelmente se fecharam sozinhos depois de tudo girar e a minha vista embaçada ver pessoas ao meu redor enquanto apenas uma delas se ponhava em cima de mim balançando o meu corpo me fazendo fechar os olhos e abri-los novamente podendo ter a minha visão normal de novo.
XXX: Você está bem? - escutei uma voz longe, e logo em seguida mais vozes desconhecidas. Ele tinha cabelos loiros, pele branca e olhos azuis como o céu em um dia de verão que me encaravam arregalados com uma expressão assustada.
Eu: Hã... eu... - minha voz saia como um sussurro. Observei as poucas pessoas que me rodeavam se afastarem e só ele ficou lá, ainda me sacudindo levemente e me perguntando se estava tudo bem ou se eu tinha me machucado. - Tudo bem, eu não... Ai! - senti meu joelho arder, fazendo um pouco de força para ficar sentada e vendo-o com um belo de um corte. Um corte profundo.
XXX: Levanta, eu te ajudo. - o garoto loiro falou se levantando e me dando a mão, na qual eu segurei depois que várias buzinas escoaram alto.
XXX: Saiam logo daí, não está vendo que estamos com pressa? - um homem gritou com a cabeça para fora do carro enquanto buzinava.
XXX: Não está vendo que ela se machucou seu imbecil? - o garoto que me ajudara gritou de volta apoiando meu braço em seu ombro e me ajudando a ir até o outro lado da rua. -Você está bem? - me perguntou novamente. - Seu joelho.
Eu: Droga! - murmurei olhando para a dobra da minha perna direita que estava com um corte quase que imenso, provavelmente onde a frente do carro havia atingido em cheio. - Tudo bem, eu dou um jeito nisso. - me agachei tocando de leve o ferimento, que reagiu na hora. Fechei os olhos fortemente e mordi o lábio, segurando um gemido de dor.
XXX: Não, você mal consegue andar direito, deixa que eu te ajudo. - pediu mais uma vez.
Eu: Não garoto, você já me ajudou de mais.
XXX: Eu estou com meu carro, posso te levar para minha casa e tratar disso.
Eu: Já falei que não precisa. - falei mais uma vez, desta vez mais rígida, dando um passo para frente e sentindo uma pontada de dor no local ferido novamente.
XXX: Espera, olha vai ser melhor... - segurou no meu pulso, me impedindo de dar mais um passo.
Eu: Ok Loirinho. - me virei para encará-lo. - Como vou saber se você não é um maníaco estuprador que quer me levar para a sua casa e abusar de mim?
XXX: Loirinho? - perguntou erguendo uma sobrancelha sorrindo.
Eu: Sim, não sei seu nome. - cruzei os braços.
XXX: Meu nome é Niall. - sorriu. - Tenho 18 anos e não sou nenhum maníaco estuprador, estou tentando ajudar uma garota que está com um corte fundo no joelho e que foi atropelada porque estava muito desatenta e demora muito para atravessar uma rua.
Eu: Eu não estava desatenta.
Niall: Sério? - falou irônico.
Eu: Sim, eu sou muito atenta até.
Niall: Sei, agora deixa eu cuidar do seu joelho e relaxe, eu não vou fazer nada com você. - disse caminhando até uma caminhonete prata, que acendeu os faróis quando ele apertou o botão da chave.
Eu: Ela é sua? - perguntei erguendo as sobrancelhas.
Niall: Sim, por quê? - abriu a porta para mim.
Eu: Nada. - disse e ele entrou no carro, ligando-o e saindo dali, pegando um caminho no qual eu desconhecia, e por mais que eu já tivesse feito loucuras na vida essa era uma das maiores, e por mais que eu soubesse que eu estava correndo um risco e tanto dentro de um carro de um desconhecido indo a caminho da sua casa que eu não tinha ideia de onde ficava, para cuidar do corte do meu joelho já que provavelmente eu não faria isso com tanto cuidado.
Percorremos ruas em que eu não tinha ideia de onde ficava, por fim paramos em frente a uma casa que estava mais para mansão. Só a sua frente dava dois da frente do prédio aonde eu morava, e eu imaginava o interior como não seria. Desci do carro depois dele, sentindo borboletas voarem no meu estômago, e a essa altura eu já não poderia fazer mais nada a não ser entrar ali e ver se ele me ajudaria mesmo ou abusaria de mim.
Niall abriu a porta liberando a visão da sua sala de estar, que se brincasse era o dobro do tamanho da minha, havia móveis de uma madeira sofisticada, aquelas que em geral só os ricos tem, quadros com pinturas incrivelmente bem feitas nas quais algumas eu poderia garantir que eram originais e uma televisão de quarenta polegadas pelos meus indícios. Observei-o ir até um cômodo que eu não sabia qual era e me deixar ali sozinha, ainda observando tudo por ali. Pouco tempo depois ele voltou com uma caixinha branca nas mãos e me pediu para que sentasse em seu enorme sofá que era de uma cor vermelho escuro, e assim ele tirou alguns algodões e curativos da maletinha de primeiros socorros. Fechei os olhos com força quando senti o algodão molhado tocar levemente o ferimento e o mesmo arder. Seus olhos azuis me encararam quando eu fiz isso, como se ele quisesse se certificar se estava tudo bem para continuar.
Niall: Pronto. - disse terminando o curativo do meu joelho e guardando o resto das coisas deixando a caixa no chão.
Eu: Obrigada. - sorri fraco desfazendo a minha cara de dor. - Agora eu já posso ir. - me levantei.
Niall: Espera, não quer que eu te deixe na sua casa?
Eu: Não Loirinho, obrigada por ter me ajudado, mas agora eu realmente preciso ir. - disse levando em consideração de que eu não queria voltar para o colégio de jeito nenhum, mas o que eu não podia é ficar ali.
Niall: Mas você nem sabe o caminho.
Eu: Tudo bem, pode deixar que eu me viro.
Niall: Não, de jeito nenhum, não vou deixar você sair por aí nesse frio sozinha e ainda mais machucada.
Eu: Vai sim, e eu já estou indo. - caminhei até a porta.
Antes que eu pudesse levar a mão até a maçaneta da porta, ele segurou meu pulso levemente me fazendo virar novamente encarando o seu rosto mais de perto.
Niall: Me deixe pelo menos te deixar em casa, já que eu te trouxe aqui eu me sinto na obrigação de te levar de volta, já que você nem como voltar.
Eu: Eu sei o caminho, agora me deixe ir. - soltei meu pulso de sua mão e abri a porta, andando em paços largos até a rua, e os flocos de neve já começavam a cair.
Observei uma parada de ônibus mais a frente e respirei fundo antes de caminhar até a mesma, tendo a esperança de que passasse algum ônibus que me levasse a qualquer lugar e de lá eu pegasse outro que me levasse de volta para casa. Havia algumas pessoas ali, que quando eu cheguei me olharam estranho, mas eu não dei muita atenção. Me sentei em um dos bancos desocupados ali e esperei uns vinte minutos e alguns ônibus paravam e algumas pessoas subiam, mas todos eles não levavam a nenhum lugar que eu conhecesse. As pessoas ainda me olhavam estranho, e só então eu já estava incomodada e resolvi descobrir o que era, olhei para a minha roupa e só então eu fui perceber que a minha calça estava com um rasgão enorme na perna direita.
Eu: Merda! - murmurei chamando a atenção de gente que passavam ali que me olharam um pouco feio, mas eu nem liguei.
Passaram-se mais vinte minutos e a parada foi se esvaziando mais, e eu percebi um carro preto que estava parado ali a um certo tempo, o que me deixava um pouco receosa, mas não tanto já que ainda tinha algumas pessoas ali comigo.
A última pessoa subiu no ônibus me deixando sozinha ali, e eu a xinguei mentalmente por isso. Olhei para o meu lado direito e o carro preto ainda estava ali, do mesmo jeito desde o começo. Respirei fundo mais uma vez pegando o meu celular para ver as horas, já eram quase meio-dia e nada de passar um maldito de um ônibus que me tirasse dali. Olhei novamente para o carro preto que agora tinha saído do lugar, se aproximando cada vez mais de onde eu estava. A essa altura eu estava torcendo para que ele passasse direto e fosse embora, ou então que alguém surgisse do nada e me fizesse companhia ali. Mas aconteceu justamente o contrário, ninguém apareceu para ser testemunha do que aconteceria ali e o maldito carro parou bem na minha frente. Meu coração parecia mais uma escola de samba quando o vidro começou a descer devagar, revelando a figura de um ser de cabelos loiros e olhos azuis que me encaravam naquele momento.
Franzi as sobrancelhas confusa e a fim de saber porque ele estava ali aquele tempo todo e se aquele super carro era dele também.
Niall: Tem certeza de que não quer que eu te leve?
Eu: O que você estava fazendo parado esse tempo todo?
Niall: Estava apenas me certificando se você sabia mesmo o caminho. - sorriu.
Eu: Você não cansa Loirinho? - revirei os olhos.
Niall: De quê? - perguntou como se não soubesse a resposta.
Eu: Porque você quer tanto me ajudar?
Niall: Talvez porque eu não goste de ver alguém precisando de ajuda e apenas ignorar. - deu de ombros.
Eu: Acontece que você é só mais um mauricinho metido e eu sei me virar muito bem sozinha. - falei achando aquilo tedioso demais.
Niall: Sério que você acha isso? Como pode ter certeza se nem me conhece? - falou em um tom desafiador.
Eu: Porque eu conheço bem o seu tipinho, faz questão de dizer que tem carros super caros, de levar uma garota para conhecer sua casa e fazer elas de otárias.
Ele riu enquanto balançava a cabeça negativamente olhando para frente.
Niall: Acho que tem um pequena diferença aí. - ele falou e eu ergui uma sobrancelha. - A diferença é que eu gosto de ajudar as pessoas, vejo uma garota pelo seu conteúdo, não levo qualquer uma para a casa até por respeitar minha mãe e esse " tipinho " que você falou que eu sou simplesmente nem desceria do carro para ajudar um agarota distraída que foi atropelada enquanto atravessava a rua. - disse me deixando sem resposta e quando percebeu isso sorriu novamente. - Vai mesmo ficar plantada aí ou vai entrar e me deixar te levar em casa?
Revirei os olhos e me levantei caminhando em direção ao carro, vendo Niall que não se cansava de sorrir. Assim que fechei a porta e coloquei o sinto de segurança ele deu a partida, voltando pelas ruas que havíamos chegado até sua casa e tomando aquele caminho desconhecido por mim de novo, mas que, por algum motivo, desta vez eu não suspeitava que ele não me levaria a algum lugar a não ser a minha casa.
Segunda parte em breve!

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